Em 1910, a Avenida João Machado foi aberta sob a inspiração dos denominados “boulevard”. Representou a primeira tentativa de modernização do espaço urbano da então Cidade da Parahyba, como também, um eixo de expansão na direção sul. Nas primeiras décadas de sua abertura foi o lugar privilegiado para a construção dos suntuosos casarões da classe abastada, bem como para a implantação de algumas instituições que também indicavam a modernidade da capital.
Neste ano o engenheiro sanitarista Saturnino de Brito apresentou seu projeto de saneamento para a cidade, o qual havia sido convidado para elaborar. Na ocasião propôs também um projeto de melhoramento e expansão urbana com um traçado inovador, mas a falta de recursos para a imediata execução das obras resultou no adiamento desse projeto até 1922.
Teve início a instalação do sistema de bondes elétricos, sob a administração da Empresa de Tração, Luz e Força, com sede na Usina da Cruz do Peixe, geradora de energia para a cidade. A mudança de tração do bonde foi concluída em 1917 e, durante este período, os novos bondes circularam juntamente com aqueles de tração animal, que haviam sido implantados em 1896.
O processo de modernização e expansão da cidade se direcionou para o leste, indo em busca do litoral, concorrendo para a abertura da Avenida Epitácio Pessoa, cuja obra teve início em 1918, sendo interrompida em 1920. O primeiro traçado da avenida, ainda muito precária, iniciava-se na Usina da Cruz do Peixe e seguia até a Praia de Tambaú, possuindo aproximadamente cinco quilômetros de extensão e trinta metros de largura.
No ano de 1922 foi construída e inaugurada a Praça da Independência, em comemoração ao centenário da independência do Brasil. Seu terreno era parte de um sítio de propriedade da família de Walfredo Guedes Pereira, o qual foi prefeito da cidade naquela época. Possui em seu centro um obelisco alusivo ao fato celebrado em sua criação, e um pavilhão (coreto) destinado a abrigar as autoridades durante a realização de atividades cívicas.
Surgindo como um marco do desenvolvimento da cidade, a Praça Vidal de Negreiro ocupou o espaço onde estavam a antiga Igreja do Rosário dos Pretos e algumas outras edificações. Sendo demolidas, a intenção era ampliar esse espaço para onde convergiam as linhas de bonde, cujo preço da passagem gerou a alcunha mais famosa para a praça: Cem Réis. Inaugurada em 1924, ela contava com um pavilhão em estilo eclético que funcionava como café, bomboniere e floricultura e, dois anos depois, receberia também uma torre com relógio.
Foi elaborada uma planta da cidade, por ordem do prefeito José d'Ávila Lins (1928-1930), executada pelo engenheiro Alfredo Cihar. Esta registrou as expressivas mudanças na malha urbana de João Pessoa, entre as quais a inclusão de Cruz das Armas como um bairro periférico da capital, e o substancial desenvolvimento da povoação na Praia de Tambaú, resultado das ações do prefeito João Maurício de Medeiros (1924-1928).
O urbanista Nestor de Figueiredo apresentou naquele ano um projeto de remodelação e expansão para João Pessoa, buscando articular a área que chamou de “cidade existente” à “cidade futura” direcionada para o litoral. Embora não implantado integralmente, deste projeto resultou o desenho do atual Bairro da Torre e, na planta traçada por ele, também constava o futuro Bairro dos Estados e as avenidas Epitácio Pessoa e Rui Carneiro.
A obra mais significativa deste período foi a urbanização do Parque Sólon de Lucena e seu entorno, fato que possibilitou a definitiva incorporação desta área à malha urbana de João Pessoa. Sendo parte do projeto elaborado pelo urbanista Nestor de Figueiredo, inclui a abertura da Avenida Getúlio Vargas – então denominada “Parkway da Lagoa” e o Instituto de Educação, cuja edificação principal é o atual Liceu Paraibano.
Data deste ano uma nova planta da cidade, produzida pelo Departamento Estadual de Estatística, órgão que representava o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Paraíba. Trazendo uma atualização dos dados registrado na planta de 1930, quanto à expansão urbana de João Pessoa, nela estão indicados os diversos bairros que seguiam se incorporando à cidade: Oitizeiro, Cruz das Armas, Roger, Jaguaribe, Torre, Mandacarú, Tambauzinho e Tambaú.
Nesse ano foi edificada a residência número 1410, da Avenida Epitácio Pessoa. Segundo consta em documentação encontrada no Arquivo Central da Prefeitura Municipal de João Pessoa, ela foi projetada pelo construtor Carmello Ruffo, seguindo o partido arquitetônico dos Bangalôs que marcaram a paisagem da avenida na década de 1940. Este tipo de arquitetura era apropriada para as áreas mais afastadas dos núcleos centrais das cidades, tendo um aspecto acolhedor, com varandas e jardins de ar bucólico.
Somente na década de 1950, vai se verificar um processo de verticalização da arquitetura em João Pessoa, sendo tardio em relação a outras capitais brasileiras. Neste cenário, surge como precursor o edifício sede do IPASE, que teve sua construção iniciada em 1949. Marco da arquitetura moderna na cidade, este prédio apresenta quatro dos cinco pontos elencados pelo arquiteto francês Le Corbusier para caracterizar o modernismo: a planta livre, a fachada independente, as janelas horizontais e o uso de pilotis.
No dia 15 de abril de 1950 foi inaugurada, na Rua Maciel Pinheiro, a “Pensão da Hosana”, com apresentação do cantor Nelson Gonçalves, então em destaque no cenário musical brasileiro. Esta casa noturna e outras luxuosas pensões instaladas ali faziam ser aquela a área mais boêmia da cidade, atraindo figuras importantes da sociedade da época. A Maciel Pinheiro que desde a década de 1920 se destacara por abrigar o comércio mais refinado da cidade, em particular no ramo da moda, tinha na década de 1950 o início do declínio econômico e social.
A Avenida Epitácio Pessoa recebe a pavimentação de paralelepípedos, no governo de José Américo de Almeida (1951-1956), fato que fortaleceu sua condição de caminho para o mar e fez crescer o número de imóveis ao longo do seu trajeto. Melhorando a acessibilidade à área litorânea de Cabo Branco e Tambaú, estas foram finalmente incorporadas à cidade, atraindo a população tanto por lazer, quanto para lá morar.
Teve início a construção da nova sede do Esporte Clube Cabo Branco que, ao lado do loteamento “Jardim Miramar”, financiado pela Caixa Econômica Federal, marcaram o desenvolvimento da cidade em direção ao litoral, atraindo, progressivamente, moradores de classe média e alta, devido à proximidade com a praia. O clube, projetado pelo arquiteto Acácio Gil Borsói, foi concluído por etapas. Em 1958 foi inaugurado o ginásio; por volta de 1961, a boate e a piscina; em 1963, o restaurante panorâmico.
Nesse ano foi inaugurado o Edifício Presidente João Pessoa, localizado à Rua General Osório. Filiado à arquitetura moderna e mais conhecido pelo título de “18 andares”, devido ao marcante número de pavimentos para a época em que foi construído, ele marca o início do primeiro ciclo de verticalização da arquitetura residencial na cidade e a mudança nos hábitos de morar, da casa unifamiliar para os apartamentos. Na década de 1960 outros prédios residenciais foram construídos no centro da cidade: o Ed. Caricé e o Ed. Santa Rita.
Teve início a construção do campus da Universidade Federal da Paraíba, cujo primeiro conjunto edificado foi o Centro de Tecnologia. O local escolhido para implantação do campus era antes ocupado pela fazendo experimental São Rafael, de propriedade do Governo do Estado, que a doou à recém-criada UFPB. O Plano Piloto do campus foi desenvolvido, em 1963, pelo arquiteto e professor da Escola de Engenharia, Leonardo Stuckert e, com o passar dos anos, reuniu um significativo acervo de edifícios modernistas.
Foi construído o Conjunto Castelo Branco, o maior conjunto habitacional até então implantado na cidade, contando com 630 residências. Este foi parte da ação do BNH, Banco Nacional da Habitação, em programa criado quando do regime militar visando financiar grandes intervenções urbanas em todo o país, em particular no campo da habitação popular. Marcou a efetiva expansão da cidade em direção sudeste e, juntamente com o Campus da UFPB, foram fatores para o posterior crescimento da malha urbana naquela direção.
Nesse ano foi inaugurado o Tropical Hotel Tambaú, obra iniciada em 1966, sob projeto do arquiteto carioca Sérgio Bernardes. Sua construção foi motivada pela necessidade de dotar a cidade com um hotel compatível com o discurso desenvolvimentista da época, sendo escolhida a orla marítima para a sua implantação, visando encaminhar o crescimento da cidade no sentido leste, incentivando o turismo. Tornou-se um marco referencial do modernismo, com sua forma circular e o emprego do concreto aparente em grande quantidade.
Em 15 de janeiro de 1973 foram iniciadas as obras de construção do Viaduto Miguel Couto, que constituía parte do Plano de Desenvolvimento Integrado da Prefeitura Municipal de João Pessoa proposto àquela época. Sua inserção, embora representasse uma intervenção agressiva na malha urbana do centro antigo era justificada para viabilizar uma ligação mais direta entre a área do Parque Sólon de Lucena e a cidade baixa, desafogando a circulação de veículos nas principais ruas da cidade alta.
Foram concluídos os conjuntos habitacionais José Américo, Ernesto Geisel e Altiplano Cabo Branco, cujo somatório de unidades residenciais demonstra a atenção do governo para com o problema da habitação popular, totalizando mais de três mil unidades. A construção desses conjuntos e de outros edificados na segunda metade da década de 1970 reforçou o crescimento da região sudeste da cidade.
Com a criação do IPHAEP – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba, teve início a proteção efetiva do patrimônio edificado da cidade. Em 1980, a instituição fez os primeiros tombamentos de edifícios representativos e, também, delimitou a poligonal do centro histórico de João Pessoa, área que foi protegida pelo Decreto Estadual nº 9.484 de 10 de maio de 1982. Tal ação visava resguardar do impacto do desenvolvimento urbano aquelas áreas que guardam a história da cidade, desde a sua fundação até o início do século XX.
Em 19 de março de 1982 foi inaugurado o Espaço Cultural José Lins do Rego, projeto do arquiteto carioca Sérgio Bernardes, localizado no Bairro de Tambauzinho. Sendo um espaço destinado à cultura, o projeto foi polêmico devido ao grande investimento financeiro, mas em relação à produção arquitetônica na cidade, foi responsável por introduzir soluções construtivas até então desconhecidas, como a coberta em treliça metálica e o concreto protendido, necessários para vencer os grandes vãos propostos pelo arquiteto.
Foram concluídos os conjuntos habitacionais Mangabeira II (6.344 unidades) e Valentina Figueiredo (4.406), certamente os maiores já edificados em João Pessoa, expressando o crescimento populacional das últimas décadas. Estes foram implantados em área relativamente próxima a orla, na altura da atual Praia do Sol, tendo a perspectiva de ocupação futura daquela região com um planejado polo turístico que não se concretizou.
Onde hoje está o bairro de Intermares era um grande coqueiral até 1985, ano em foi loteado. Nos anos seguintes, ocorreu uma ocupação lenta e gradativa da área, levando muitos moradores de João Pessoa a optar por ter ali residência fixa. Juntamente com outros fatores, como o desenvolvimento da atividade comercial às margens da BR 230, em direção a Cabedelo, ocorreu uma conexão cada vez maior entre os dois municípios, encurtando as distâncias e preenchendo os espaços vazios que havia entre as praias que anteriormente eram apenas de veraneio.
O Plano Diretor de João Pessoa, publicado em 1992, tem em seu Artigo 25 as normas que regulamentam o escalonamento da altura máxima das construções situadas em uma faixa de 500 metros ao longo da orla marítima. Desde então, desapareceram, quase totalmente, as antigas residências unifamiliares que caracterizavam a paisagem das praias de Tambaú, Cabo Branco a Manaíra, substituídas por edifícios que são reflexo da referida legislação.
Através da imagem contida no site da Prefeitura Municipal de João Pessoa, é possível perceber a dimensão da cidade em 1994. Com origem vinculada às margens do Rio Sanhauá, somente nas primeiras décadas do século XX sua malha urbana alcançou a orla marítima, mas nesse mesmo século João Pessoa se expandiu e adensou ocupando praticamente todos os limites do município.